quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Você não chegou a me chamar de mau caráter diretamente. Vivemos nas milhares de piscinas naturais de Arembepe, ambos nus, copulando, hora sim, hora não. Entregues ao hedonismo pleno, quase absoluto. Lembro bem que tínhamos até emagrecido de tanto sexo, tanto mar, tanto céu, coqueiros, mas não imaginava que você estivesse padecendo do que chamou em sua carta de tonymania. Explica, mas não justifica Dolores. Se você está querendo arranjar argumentos para justificar o fato de, sinuosamente, ir me dizendo que sou um mau caráter, errou na mão. Mania alguma justifica uma ofensa deste nível, ou melhor, dessa falta de nível. Foi um eposódio tão injusto e lamentável que ainda hoje, muitos anos depois, sinto a ofensa como se você tivesse acabado de proferi-la.

Acredito no seu medo de sentir profundamente tudo o que demonstra sentir por mim. Acredito sim, Dolores. Mas há fatos que merecem uma explicação, ou pelo menos um questionamento, sei lá. Por exemplo, lembra que há tempos seu cheiro mudava quando nos beijávamos? Não muda mais. Eu até brinquei com aquele buquê de rosas com o cartão "você ainda sabe me amar?" quando percebi e senti falta da sua mudança de aroma. Em seguida você passou a acordar mais cedo, pular da cama e sair, apesar de saber que eu detestava amanhecer sem um beijo seu. E por aí foi. Fui sentindo seu desleixo, mas sempre coloquei na conta da porra da carência, moléstia afetiva que assola todos nós. Todos, sem exceção.

Mas não creio que é recordando dramas do passado que vamos dissolver esse mormaço que se apresenta. Pergunto: o que está acontecendo hoje com nós dois? Será mais uma crise? Será A crise definitiva que prenuncia o bad end? Afinal, você confessa que "Livre dessa tonymania, posso, um dia, quem sabe, amá-lo melhor". Para mim o que você chama de tonymania era amor e paixão numa mesma garrafa e na mesma proporção. Para você (que faz questão de deixar bem claro) um problema que estava comprometendo nossa relação. Um vício vagabundo. Aí eu pergunto: como vamos sair dessa? Ou já não há mais saída porque o disco acabou? Beijos, Tony.

Nenhum comentário:

Postar um comentário