domingo, 14 de fevereiro de 2010

Existem três tipos de pessoas nesse mundo: as que foram sempre sozinhas e custaram a entender isso; as que sempre foram, mas não se conformam e usam de toda espécie de artimanhas para se sentirem amadas; e as que passaram a ser depois de frustradas tentativas de encontrar seu par.

Creio que me encaixo na primeira descrição.

Sempre fui só. Claro que acreditava que um dia encontraria alguém e, enfim, teria filhinhos... essas coisas. Mas no fundo no fundo sempre fui aquela garota que estava na festa mais como observadora do que participante.

E, com o tempo, isto fez com que eu adquirisse uma paciência extrema em relação às falhas, defeitos, inconcretudes ou impermanências das outras pessoas.

Naturalmente – acredito que nem precisasse dizer – a recíproca nunca foi verdadeira.

Amigos, amantes, companheiros de viagem ou qualquer outro apelido que queira dar aos que passaram por mim ou cruzaram comigo jamais se detiveram aquele tempinho a mais para entender meu motivos. Não eram obrigados, contudo. Ninguém é.

Não sou mulher de provocar falsos mistérios para atrair canalhas otários. Há quem o faça e o faça bem. Mas não integro essa lista. Apesar de invejar - confesso - mulheres que sabem fazer de homens mariposas.

Ou como diz o orixá Exu: “é o que é”.

É isso.
Beijos. Dolores.


Dolores, um dia desses fui a um aniversário no bairro onde morei na adolescência. Por razões que desconheço, a especulação imobiliária ainda não abocanhou boa parte do lugar onde vivi dias e noites sonhando, atirando bombas juninas, soltando pipa, namorando, namorando, namorando. Muitas casas ainda estão lá, assim como os muros onde nós, um bando de saudáveis inconsequentes, escrevíamos mensagens de amor para nossas namoradas usando o xixi como canetas. Confesso, minha querida, que depois da festa de aniversário resolvi dar uma perambulada à pé pelo bairro, na verdade uma rápida incursão por mim mesmo. O homem e seus símbolos. Não vou negar, Dolores, que enquanto caminhava lentamente pelas ruas senti um nó na garganta. Terá sido saudade? Não sei, sinceramente não sei. Os ecos do meu passado chegavam a bordo de canções dos Beatles, Stones, Mamas and Papas e toda a Tropicália. As músicas tocavam em minha cabeça como MP3 enquanto eu lembrava dos personagens de minha história.

Você sabe que não sou saudosista. Sabe sim. E não julgo essa minha incursão um flash back. Longe disso. Eu fiquei fascinado com todo aquele cenário e quis mergulhar nele tempos depois. Muita gente faz isso quando o cenário ainda existe. Mas em nenhum momento tive a pueril ilusão de que iria reencontrar meus amigos, os balões de São João, as garotas. Claro que não. O tempo passou, alguns desses amigos morreram, outros foram tocar suas vidas em outros lugares, mas restaram algumas casas, os muros, fragmentos de nossas adolescências e seus sonhos e pesadelos. Tudo isso para dizer, querida Dolores, que foi bom eu ter dado esse giro pelo bairro, um dos cofres de meu passado, que como bom passado, passou. Beijos do Tony.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Eu sabia. Sabia que, quando eu pronunciasse a palavra maldita, você correria como cão danado. Como diabo assustado da cruz. Pobre diabo. Como se não fôsssemos! Como se, esse tempo todo em que vivemos a experiência de caminharmos juntos, não estivéssemos... (leia devagar) ca-sa-dos.

Você me lembra um namoradinho da faculdade.

Éramos até invejados pelos colegas de turma por conta de nossa afinidade, nossa alegria equilibrada ou tranquila paixão. Mas a palavra “na-mo-ra-do” não podia ser pronunciada. Era um mito mal digerido. Um tabu. Engraçado, não?

E, mesmo assim, apesar de sua estranha fobia a uma mera palavra, a uma simples representação do que verdadeiramente já ocorre, não me arrependo das inúmeras vezes em que cuidei de – e fui cuidada por – você.

Das vezes em que banquei a “maria” pregando botões, cerzindo meias, esfregando colarinhos impregnados de deleixo masculino. Isso era quase um ritual afetivo. Um mimo. Então como me arrepender de pequenos atos inundados de felicidade simplesmente por serem dirigidos a você!

E como não ser agradecida pelas inúmeras refeições que preparou para mim, dizendo com jeito doce e bobalhão que era para me dar “um descanso na cozinha”. Suas comidas de temperos exóticos e sabores quentes. Como você.

Vou mudar a pergunta, meu amor: se você aceita casar comigo, eu quero.

Beijos. Dolores.