quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Será que preciso mesmo responder a sua pergunta? Você me conhece melhor do que eu para saber por que não surfei nas ondas de minhas duas (agora ex) amigas. Precisaria? Creio que não. Seria redundante e desnecessário.

O que me faz lembrar um namoro da adolescência mal resolvido. Namoro sem sexo. Eu doida pra surfar na onda dele... Lindo... lindo de morrer. Imagina George Clooney com 18 anos e sarado do exército. Imaginou? Ele era melhor.

Até que, um belo dia, nossa melhor amiga – a que nos apresentou, a pedido dele – me contou algo que ele havia comentado. O que para ela soava normal, para mim foi como um soco entre os olhos. Comentário que demonstrava, de forma deprimente, o quanto ele estava distante e o quanto me desconhecia.

Passou.

Anos mais tarde, ele recém-separado e eu ainda sem você fomos surfar juntos um a onda do outro.

Desastre.

O George Clooney desejado por tantas e que levara umas tantas outras pra surfar, o melhor dos melhores... veja você, não sabia me surfar. Só sabia surfar a onda dele... ah, e fazer pose, muita pose.

Mas veja ainda você, Tony. Somos amigos até hoje. Confidentes mesmo. Camaradas.

Moral da história: quando o assunto é sexo, conjeturas não valem de nada. É o que é. Meu Clooney não era. Minhas duas amigas, então, jamais foram.

Moral da história II, honey: no meu sexo, o amor é prato principal.
Sua, Dolores.
Querida (?) Dolores, vi sua cartinha. Vi e li. Está lá "devo me escangalhar de rir ou refletir com atenção aos detalhes?". Faça o que quiser. Você é livre. Aliás, com relação a mim, sempre foi livre porque não gosto de mulheres submissas, anuladas, existencialmente capadas. Sinal de péssima cama, mesa fraca, vida inútil.

Você insiste com as lembranças, num momento em que sinto saudade do futuro. Sabe, quando terminei de escrever a última missiva, acabei me masturbando, "saindo na mão" como decreta a genialidade popular. Pensando em você, mas numa espécie do que seria se não fosse seu horror fóbico a ousadia. Ainda havia (há?) muito a fazermos e você deixou, por baixo, um milhão de gozos atirados na beira do caminho. Só me resta lembrar. E lembrar não é sofrer. Sofreguidão é escudo dos aflitos e incompetentes que a utilizam como arma branca. Prefiro as negras.

Quando você foi voyeur das duas amigas e diz que as perdeu para sempre, a explicação é tão banal, Dolores. O voyeur é um delator em potencial. Por que? Porque acaba comentando com seus interlocutores preferidos. E mesmo sem citar nomes, acaba delatando. Menage é como o mar, feito para mergulhar, nadar, mas muitas vezes afoga. Por isso, escolher a praia é fundamental. Até hoje não entendi porque você não surfou a onda das suas amigas, partiu pra cima, pra baixo, pra dentro, pra fora. Não entendi, não entendo e nem entenderei. Mais: você sequer pensou em traze-las para a nossa cama, alegando, de novo, medo de um rali sexual.

Ora, Dolores, a vida é do cacete e eu continuo amando você. No fundo (e no raso) você sabe disso. Mas não parei na esquina esperando um ônibus provável que ninguém sabe se passa por ali ou não. Nunca fui de ficar ronronando assuntos, lambendo pelas beiradas. Quando te PROPUS DIRETAMENTE um menage você esguichou no ato. Sei porque estava lá dentro. Você ameaça me odiar se eu não calar a boca. Pois, odeie à vontade Dolores. Quieto não fico mais. Nunca mais. Tony.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

É preciso certo cuidado, meu doce e desajeitado Tony, quando dispomos pratos, copos, guardanapos e talheres à mesa. Os lugares para este ou aquele convidado... se usaremos flores ou velas... é uma arte.

Da mesma forma as lembranças.

Nem todas são fáceis de serem mexidas. Lembranças sobre experimentações sexuais, então, geralmente nos levam a uma inevitável dúvida: "devo me escangalhar de rir ou refletir com atenção aos detalhes?"

Vício psicanalítico - você sugeriria.

E eu responderia: talvez.

Não ser escrava de nada. Este foi sempre o meu ideal.

Mas, de você... O que eu não faria para agradar você? Só que quando nos damos conta de que aquilo que fizemos como presente generoso ao ser amado torna-se algo tão prazeroso que poderíamos viver sem ele - o ser amado, como não se assustar?

Como daquela vez em que me tornei voyeur de duas amigas e as perdi para sempre. A amizade, digo. Foi para o espaço. O vício de olhar, no entanto, foi mais difícil de lançar estratosfera a fora. Enfim.

Por essas e outras, meu querido, que prefiro não pensar muito nisso. No prazer de certos vícios. Porque entre me deixar levar por impulsos libidinosos e odiar você, prefiro abrir mão do primeiro.

Ou entenda de uma vez por todas. Prefiro não tê-lo a perdê-lo de vista. Ou, pelo menos, não da maneira como entende o que é ser possuído. Entende isto?
E isto também é amor.
Sua, Dolores.

Dolores, querida (?), em meus momentos mais barangosos costumo pensar coisas do tipo "como a camada de ozônio, agredida diariamente, o afeto também se encerra". Aí, você vai inquirir "Tony, por que guardou tanta mágoa? Por que não disse nada? Por que sofreu calado?" Nada disso, Dolores. Não guardei nada. Liberei tudo em tempo real, só que fora daquilo que uma vez, bêbada, você chamou de "nosso nicho". Sabe, naquela noite, embalado pelo odor de rum que transpirava de sua pele, quase gozei dentro de você com o sórdido objetivo de emprenhá-la. Palavreado grosseiro? Não. Palavreado "orgânico", dizem os mais modernos. Eu desejei ter um filho seu, quebrando toda a sua tabuada racional que se negava até pensar no assunto. Aí você abriu a porta. Saí. E a orgia existencial me tragou, inexoravelmente.


Suas perspectivas darwinistas em relação a mim eram como um cinema apagado. E sem filme na tela. Filhos? Não. Casar? Não. Benito de Paula? Não. Você implicava até com o Benito de Paula, cantor e compositor que eu ouvia entre Chopin e Wagner. Ouvia, não. Ouço. Ouço aos berros, porque depois que a princesa Isabel que reside em você assinou meu alvará de soltura eu sumi no meu mundo interior. Liberdade ainda que à tardinha, escreveu um poeta, acho que de Rio Bonito (RJ), quando lá estive para participar de um menage com duas amigas. Isso mesmo. Algum problema? Mais um preconceito? Então toma: mês passado assisti Benito de Paula ao vivo em Volta Redonda.


Você me criticava, TAMBÉM, pelo fato de ser apreciador de menage. Criticou tanto, policiou, vigiou, que acabei me viciando em menage, a ponto de estar pretendendo casar com duas, digamos, amásias bem próximas recentemente. Já checamos tudo e descobrimos que em Porto Rico a bigamia não é uma atividade fora da lei. E o mais curioso de tudo isso é que quando a conheci, doce Dolores, em nossas primeiras cruzas, você pedia para "conhecer" um menage. Eu acabei providenciando e, segundo você, foi um fim de semana inesquecível. Eu, você e minha distante prima sob o edredon, no chão da sala, na cozinha, 72 horas sem dormir. Quando ela foi embora, você me olhou forte e disparou "nunca mais quero fazer isso...é bom demais e posso me viciar". E depois, o viviado era eu. Gozada, você.


Sua vitimologia crônica era fascinante, mas depois enjoou. Mas, fato é, que mesmo debaixo de tanta neblina, eu ainda te amo. Vou cortar o cabelo. Tony.