terça-feira, 8 de fevereiro de 2011


Dolores, querida (?), em meus momentos mais barangosos costumo pensar coisas do tipo "como a camada de ozônio, agredida diariamente, o afeto também se encerra". Aí, você vai inquirir "Tony, por que guardou tanta mágoa? Por que não disse nada? Por que sofreu calado?" Nada disso, Dolores. Não guardei nada. Liberei tudo em tempo real, só que fora daquilo que uma vez, bêbada, você chamou de "nosso nicho". Sabe, naquela noite, embalado pelo odor de rum que transpirava de sua pele, quase gozei dentro de você com o sórdido objetivo de emprenhá-la. Palavreado grosseiro? Não. Palavreado "orgânico", dizem os mais modernos. Eu desejei ter um filho seu, quebrando toda a sua tabuada racional que se negava até pensar no assunto. Aí você abriu a porta. Saí. E a orgia existencial me tragou, inexoravelmente.


Suas perspectivas darwinistas em relação a mim eram como um cinema apagado. E sem filme na tela. Filhos? Não. Casar? Não. Benito de Paula? Não. Você implicava até com o Benito de Paula, cantor e compositor que eu ouvia entre Chopin e Wagner. Ouvia, não. Ouço. Ouço aos berros, porque depois que a princesa Isabel que reside em você assinou meu alvará de soltura eu sumi no meu mundo interior. Liberdade ainda que à tardinha, escreveu um poeta, acho que de Rio Bonito (RJ), quando lá estive para participar de um menage com duas amigas. Isso mesmo. Algum problema? Mais um preconceito? Então toma: mês passado assisti Benito de Paula ao vivo em Volta Redonda.


Você me criticava, TAMBÉM, pelo fato de ser apreciador de menage. Criticou tanto, policiou, vigiou, que acabei me viciando em menage, a ponto de estar pretendendo casar com duas, digamos, amásias bem próximas recentemente. Já checamos tudo e descobrimos que em Porto Rico a bigamia não é uma atividade fora da lei. E o mais curioso de tudo isso é que quando a conheci, doce Dolores, em nossas primeiras cruzas, você pedia para "conhecer" um menage. Eu acabei providenciando e, segundo você, foi um fim de semana inesquecível. Eu, você e minha distante prima sob o edredon, no chão da sala, na cozinha, 72 horas sem dormir. Quando ela foi embora, você me olhou forte e disparou "nunca mais quero fazer isso...é bom demais e posso me viciar". E depois, o viviado era eu. Gozada, você.


Sua vitimologia crônica era fascinante, mas depois enjoou. Mas, fato é, que mesmo debaixo de tanta neblina, eu ainda te amo. Vou cortar o cabelo. Tony.

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