domingo, 10 de janeiro de 2010

Meu Deus meu Deus meu Deus, três vezes vezes nove meu Deus! Por que vocês homens simplesmente não ouvem quando as mulheres pedem socorro? Por que sempre julgam que estamos terminando, dando um ponto final, desistindo ou cansando do amor?

Clarice diz sabiamente em um de seus inimitáveis livros que a maturidade consiste em mudamente pedir socorro e o socorro mudamente ser dado.

Talvez eu não devesse gritar, lamuriar, chorar. Talvez devesse simplesmente ter ficado quieta no meu canto esperando você entender o que se passa. Ou o que não se passa, melhor.

Mas como explicar a um homem o que quer uma mulher? Como explicar suas angústias, medos, falta de intenções?

Como explicar o tudo em que o outro se transforma em nossas vidas? Como explicar que nossa dignidade depende de nosso homem nos dar o braço e delicadamente nos manter do lado certo da calçada? Que ao saírmos do ônibus, deve saltar primeiro e oferecer-nos a mão para nos ajudar a descer?

Que ao dançar conosco, deve conduzir-nos? Como explicar. Como explicar isso?
Que nossa dignidade depende de vocês.

Vou tentar.
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Se você quiser casar comigo, eu aceito.

Beijos, Dolores.

Sabe, Dolores, eu não esperava que você fosse receber minha última carta com tanto ceticismo, pessimismo, enfim...De repente me vi como uma música velha tocando nos tímpanos da sua alma. Música velha não é música antiga, como eu julguei que fosse para você. Claro que você é livre para sentir o que quiser e o que não quiser por alguém, ou por uma situação. Mas, sinceramente, eu achei que ainda restava algum sinal de boa sintonia entre nós dois e por isso, somente por isso, propus o nosso reinício. Reinício que necessariamente não significa começar do zero.

Eu esperava que você fosse me responder com o mínimo de esperança, expectativa. Mas, elegantemente você diz ter aberto mão da vida a dois no geral, e não apenas comigo. Com certeza para não me magoar, porque sei que você, como eu, achamos que "sozinho não dá". Quantas e quantas vezes conversamos sobre isso..."sozinho não dá". E no entanto, como se tivesse esquecido de tudo o que dissemos um para o outro você diz estar se adaptando a solidão. Se foi para me consolar não funcionou, Dolores.

Espero que você resolva todos os seus entraves existenciais, na certeza de que não sou e nunca fui um deles. Torço para que você seja feliz da melhor maneira possível. Gostaria de desejar que fosse do jeito ideal, mas a felicidade ideal não existe. Agradeço por ter me dispensado de seus planos com tanta clareza e transparência. Mas, sem dissimulação, mentira e similares continuo achando que sozinho não dá. Seja feliz. Sinceramente, Tony.