segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ao filho que não tivemos
A saída do colégio que jamais viverá
O uniforme passado que não deixarei sobre a cama
A autorização do passeio que não assinarei


Ao filho que não tivemos
Nenhum beijo roubado na porta da escola
Nenhum show de rock
Ou bronca
no seu primeiro porre.

Ao filho que não tivemos, meu amor
Minha apreensão em noite febril
Cobertor, suadouro
O banho morno
Troca de fronhas, lençóis

Ao filho que não tivemos
O nome que imaginei mas não lhe dei
E a espiada entre as cortinas
Ao leve ronco de motor na garagem

Ao filho que não tivemos
Nenhum mico ou saia justa
Dos embalos pueris da puberdade
Nem fossa ou bagulho em quarto trancafiado

Ao filho que não tivemos
Nem jantar nem papinha
Nem foto, bolo de aniversário
Ano Novo ou Natais

Ao nosso filho
Nosso rebento

Apenas meu amor
Todo o meu amor

Em meu ventre vazio
Seu esperma guardado
....................................

E meu pedido de perdão
Pietá ao contrário.





Em 22.04.11
Sexta da Paixão
Você estava com os olhos mais marejados dos que os de Capitu quando me revelou tudo aquilo, à sombra daquela árvore na Quinta da Boa Vista. Principalmente quando abriu a bolsa, pegou um envelope onde estava escrito "positivo" no papel timbrado. Estava comovida porque eu falei de meu amor por você, meu amor por mim, meu amor por nossos filhos, que planejamos ter, criar, perpetuar nossa espécie, enfim. Tudo ia bem naquela manhã/tarde, quando pegamos o pedalinhos e singramos o pequeno lago da Quinta contando nossa própria história. Depois, comprei uma pipa e pus no ar, bem alto, celebrando o fato de sermos mãe e pai em breve.

Quando voltamos para casa, em silêncio no táxi, tive o ímpeto de perguntar "em que você está pensando?", mas a presença do motorista me inibiu. Ele poderia achar que sou um homem controlador, fascista afetivo, essas coisas, e não apenas momentaneamente curioso. Você levava nas mãos um buquê de flores que comprei daquele sujeito que ficava ao lado do vendedor de algodão doce. "Tony, sua elegância me comove", você disse. Fiquei sem jeito, perguntei se iria chover e acariciei seu ventre. Aí, durante a semana, o fato novo. Você decidiu tirar a pipa do ar e, com ela, meus sonhos, perspectivas, aquela blá blá blá todo. Prometi te compreender, te entender, acompanhar seu raciocínio. Tentei, mas....não deu. Beijos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ah, meu querido, agora eu me rendo porque dessa vez você trouxe às entrelinhas lembranças realmente felizes. Márcia Flores... minha doce e inseparável prima de carnavais e acampamentos. A quem ensinei a beijar como manda o figurino e a notar os rapazes com olhos de águia.


Dito e feito, deduziria um desavisado.



Mas, não. Quer por azar quer por ironia dos contextos, Flores foi parar em mãos desajeitadas e inexperientes e, desiludida dos alardeados dotes masculinos, já quase debandando para o outro lado do prazer, foi iniciada por você, meu amor. Sim. Eu disse a ela que lhe daria um homem de presente e foi com indescritível felicidade que o dei, assim... como quem oferece um licor. E saboreei cada momento daquela noite voyeur. Bebi va-ga-ro-sa-men-te cada cena.


Perfeita. Como foram perfeitas nossas madrugadas clandestinas, repletas de becos, marquises, ruas sem saída, luzes sorrateiras. Éramos dois perdidos farejando inferninhos. Praticamente uma gangue. Exatamente isso, Tony: uma gangue. Não sei em que letra de minha carta você entendeu que nosso sexo não era, ele também, parte central de nossa história. Era, meu amor. É. Caso contrário, eu não seria a Sua Dolores. Sou. Sua.
Dolores, acabei de ler sua resposta. De novo, uma bronha. De novo sua imagem real, sua seiva, seu hálito, o colo do seu útero estufado e pedindo mais, mais, mais a minha glande. Vontade de pegar você agora, mamar sua boca, lambuzar seus seios, cruzar com você até o sábado de aleluia. Mas, estou em Maricá demarcando uma Área de Proteção Ambiental. Não, não é nenhuma metáfora relacionada com uma garota virgem. É uma APA mesmo.


Percebo que minha saudade aumenta. Sinto pelo zíper da calça que, forçosamente, tenho que abrir. Também te amo. Sinto pelas frases curtas cheias de pontos. Ponto. Também te clamo. Aliás, até agora não entendi porque paramos de nos embolar nas restingas espinhosas, como gostávamos de fazer. Passamos a nos levar a sério e, eu sempre gritei, que levar amor e sacanagem a sério brocharia até o mais tarado dos escravos reprodutores de Isabel, a princesa.



Provavelmente você sequer sabe onde moro atualmente. Aliás, para ser franco, nem sei se você vai receber essa minha resposta porque estou usando internet 3 G que, como se sabe, é uma joça. Mas, não custa tentar. Tentar é o que mais fiz e faço com você. Tentar ser seu amante, concubino, já que não tive a oportunidade de desvirginá-la como sempre desejei. Certo, você me deu aquela sua prima de Itaperuna para compensar, ficou na poltrona assistindo, tudo bem, mas eu queria que fosse você. Sua prima é gostosa sim. Não vou cuspir no hímem que rompi, mas mais do que você não há. Porque somos porcos. Ambos. Só pensamos em sacanagens que fariam corar até Rabelais.



Mas, caímos na vidinha. Posso falar, Dolores? Posso mesmo? A grande verdade é que paramos de foder e passamos a fazer amor. Largamos as delícias da escada de serviço e entramos no elevador social. Destrepamos tudo. Não estou dizendo que o sexo é a base de uma relação. Estou afirmando! É bem diferente. Sem sexo, nada é possível. Nada. Com sexo, tapa na cara faz golfar, xingamentos se tornam poemas, coito anal eventualmente vira prato principal e o amor...O amor brota daquela poça que fica no meio da cama. Poça branca, meio magenta, com cheiro de liberdade. Volte! Tony.