segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ao filho que não tivemos
A saída do colégio que jamais viverá
O uniforme passado que não deixarei sobre a cama
A autorização do passeio que não assinarei


Ao filho que não tivemos
Nenhum beijo roubado na porta da escola
Nenhum show de rock
Ou bronca
no seu primeiro porre.

Ao filho que não tivemos, meu amor
Minha apreensão em noite febril
Cobertor, suadouro
O banho morno
Troca de fronhas, lençóis

Ao filho que não tivemos
O nome que imaginei mas não lhe dei
E a espiada entre as cortinas
Ao leve ronco de motor na garagem

Ao filho que não tivemos
Nenhum mico ou saia justa
Dos embalos pueris da puberdade
Nem fossa ou bagulho em quarto trancafiado

Ao filho que não tivemos
Nem jantar nem papinha
Nem foto, bolo de aniversário
Ano Novo ou Natais

Ao nosso filho
Nosso rebento

Apenas meu amor
Todo o meu amor

Em meu ventre vazio
Seu esperma guardado
....................................

E meu pedido de perdão
Pietá ao contrário.





Em 22.04.11
Sexta da Paixão

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