segunda-feira, 2 de maio de 2011

Se não nos anistiarmos o mundo não terá a generosidade de fazê-lo. Pois eu anistio você, anistio a mim, anistio todos os bentevis que nos cercam quando o outono se revela verão e o verão se traveste de primavera. Assim são os países tropicais. Assim somos nós, tropicalistas de araque, vagabundos, poetinhas...Não, prometi que iria anistiar nossos sonhos interrompidos e não jogá-los em moinhos de trigo que nem pães vão gerar. Não sei como aquele bilhete escapou. Eu estava numa anti-sala, em jejum, ia doar semem e, talvez por nervosismo, solidão, sei lá o que, escrevi aquilo. Aquilo que prometi a você que jamais escreveria porque, porque, porque o que não acontece não é história. A história é feita de fatos e não de idéias e nossos fatos são abastados, concorda? Concorda que estamos escrevendo essa vida com V maiúsculo. Não, eu não queria deixar esse bilhete na portaria do seu trabalho com a canção do Macalé, Jards na cabeça. Movimento dos Barcos, a que você deixou escrita para mim no dia em que me deixou. Porque...porque é triste. E nós não somos tristes, apesar do seu poema, belo e triste. Que confusão. Beijos.



Estou Cansada

E Você Também

Vou Sair Sem Abrir A Porta

E Não Voltar Nunca Mais

Desculpe A Paz Que Lhe

Roubei

E O Futuro Esperado Que

Nunca Lhe Dei

É Impossível Levar

Um Barco Sem Temporais

E Suportar A Vida Como Um

Momento Além Do Cais

Que Passa Ao Largo Do

Nosso Corpo

Não Quero Ficar Dando

Adeus

As Coisas Passando

Eu Quero É Passar Com Elas

E Não Deixar Nada Mais Do

Que Cinzas De Um Cigarro

E A Marca De Um Abraço No

Seu Corpo

Não, Não Sou Eu Quem Vai

Ficar No Porto Chorando

Lamentando O Eterno

Movimento Dos Barcos.

2 comentários:

  1. "Não, prometi que iria anistiar nossos sonhos interrompidos e não jogá-los em moinhos de trigo que nem pães vão gerar". Tantas imagens me vêm à cabeça quando li isso. Estou em silêncio nesse momento, pensando em moinhos.

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  2. Tenho que descordar, história (para mim)é feita de tudo, até quando ela precisa ser contada nas entre linhas. Por isso que eu gosto tantos dos seus tapas mal dados e recebidos que leio aqui. Pelas ultimas postagens, tambem fiquei pensando nos filhos que ñ tive e nos amigos que ficaram pelo caminho. Como deve ser bom ser surpeendido por quem temos um amor incondicional (um filho, um amante)Depois desta carta, é como Dolores deve estar se sentindo... surpreendida? Eu sim! Parabens Tony.

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