domingo, 27 de dezembro de 2009

Está difícil de acreditar, mesmo com amor. Mesmo com saudade e desejo impensado de resgatar essa história, seja em que ponto do inferno ela esteja. Ás vezes bate preguiça, Tony. De começar do zero... uma nova tentativa. Mais uma.

E o perigo é esse mesmo: acostumar com a solidão, mesmo com amor.

Habituar-se a acordar no silêncio das manhãs de você com você mesmo... tomar o café calado, enquanto lê apático as mesmas velhas últimas notícias do jornal. Ou simplesmente reler os clássicos que o encantaram tanto na juventude e que hoje não passam somente de mais uma saudosa leitura. Bom reler os clássicos. Mas como resgatar o entusiasmo das letras belas, porém conhecidas?

Já vi esse filme tantas vezes.

Não acredito mais na possibilidade de ser feliz ao seu lado. Ou, talvez, não acredite mais na possibilidade de acreditar na possibilidade de ser feliz ao lado de quem quer que seja.

Talvez eu devesse só me concentrar nisso: em dançar. Aperfeiçoar minha técnica. Cada vez mais. Abrir uma escola. Passar meu conhecimento para a nova geração...

Esquecer de vez essa mania que as mulheres têm de querer ser a mulher de um homem.

Aprender a ser só. A acordar só. A tomar o café da manhã sozinha.

Aprender a ser. Só ser.

Beijos. Dolores.

Chegará o dia em que vou ouvir a porta da sala abrir de um jeito que só você sabe. Vou sentir seus passos, pés descalços, caminhando em direção ao quarto como que desbravando minhas relvas. Na cama, entregue a preguiça, fecharei os olhos simulando sono profundo só para ter o prazer de senti-la de volta, perceber seus movimentos ações, requinte. Você vai mexer em minhas coisas, com cuidado para não me "acordar". Mexer com carinho, cheirar minhas roupas, minha guitarra encostada no armário. Matando a saudade de peças que foram e são tão importantes em nossas vidas. Dolores, eu a quero de volta para viver plenamente esse amor que sinto por você, capaz (por que não?) de aliviar seus olhos secos. A meu ver, de solidão. Eu a desejo de volta porque com você as músicas parecem mais belas, o sol, as estrelas, a lua, o mar, todo o Universo se torna mais intenso.

Sentir o que sinto agora é maior, muito maior, do que qualquer elocubração teórica sobre nós. Não quero mais teorizar nada. Quero seguir meu destino lado a lado com o seu e sorver a energia da felicidade possível e não idealizada. A felicidade possível está em nossas mãos, mas muitas vezes o pensamento e suas vãs teorias atrapalham, tumultuam, amplificam o não positivo. Tudo isso para dizer que desejo muito retomar nossa história. Está difícil viver longe de você. Beijos, Tony.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Por onde andam meus dias dourados de amar você? O sol a pino fervendo a terra e você... a água fresca que acalma a garganta, a brisa fresca da proa, a paisagem de aliviar olhos secos: endurecidos de multidão. Ou seria solidão?

Por onde andam as sombras acolhedoras do seu instinto másculo, sempre pronto a encontrar um norte para o nosso barco desgovernado e sem leme?

Eu confiava em você cegamente e cegamente me dava. Vislumbrava um futuro ameno, repleto de rotina e calmaria: compras no hortifruti, passeio matinal, almoço e sesta.

Mas veja você quanta ironia.

Porque devo ser sincera por amor a mim mesma e a ti. Você não me enganou. Não prometeu finais de semana iguais. Ao contrário. Acenou com abismos sobre abismos sem fim. E justo essa ausência de “normalidade” foi o que me atraiu para nós.

Mas, depois, os sonhos femininos de tranqüilidade. O amor sempre à mão, ao alcance dos braços. Que um homem como você seria incapaz de responder ou realizar.

E, mais uma vez, veja: como sonhar o paraíso sem estar no inferno com você? Sem estar na corda bamba de nossas incertezas e conversas dúbias. Tantos desencontros acumulados...

E, ainda assim, aqui estamos. Não é irônico?

Sua. Sempre sua.
Dolores.

Não vou esquecer daquele carnaval, que passei em imersão com você. Lembra que foi nessa época que concluímos que não vivemos “o” ou “um” auge e sim de pequenos e simples auges para sermos felizes, realizados e tudo mais? Pois, foi naquele carnaval. Todo mundo na rua e nós submersos em nossos sentimentos como dois submarinos amarelos assobiando canções quase psicodélicas, comendo cachorro-quente diante da TV de 20 polegadas. Pequenos auges que, para mim, se tornaram inesquecíveis.

Não tenha medo de ficar só, minha querida. Eu estou e estarei sempre aqui. Você escreveu um trecho muito nobre de minha história, que jamais ninguém ousou chegar perto. Você escreveu e me descreveu com muita pureza, muita honestidade, muito respeito. E, independente do amor eterno que sinto por você, não esquecerei jamais do respeito que você sempre demonstrou ter por mim. O que me fez admirá-la cada vez mais, me tornar seu torcedor número um, com direito a bandeira, camiseta e muitas lágrimas, Dolores. E quando a chuva caiu, molhando confetes e serpentinas, os carnavalescos que estavam na avenida se animaram ainda mais. Acho que o locutor até fez um comentário sobre isso. Sob a chuva forte, os sorrisos se mostraram mais intensos, o suor no corpo, a chuva misturada, como esquecer? Como esquecer de nós dois, um olhando para o outro, celebrando as imagens que vinham da TV, da chuva, do suor e da certeza de nosso amor? E se você me deixar agora, tenha a certeza de que vou sofrer, mas saberei entender sim. Beijos do Tony.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

E teve o Carnaval em que não saímos para nada, não arredamos o pé de casa, lembra? Montamos um piquenique na geladeira e ficamos vendo desfile madrugada a dentro... no silêncio da cidade deserta... sem ninguém... Todos foram! Engarrafados e felizes rumo às praias, ao calor, à festa gorda. Mas nós ficamos.

E como foram mágicos aqueles dias. Uma tarde, você cismou de ouvir música clássica. Sim, deu uma saudade em você.

Albinoni.

Você quis ouvir Albinoni.

Enquanto eu recostada no sofá lia Schopenhauer. “Isto não é livro para se ler no Carnaval”, você disse. E eu respondi: E Albinoni é música?

Hahahahaha! Nosso ataque de riso, lembra? Nós simplesmente não conseguíamos parar de rir... até que deu uma doida na gente e resolvemos deixar Albinoni e Schopenhauer pra lá e fazer um cachorro quente. Você mesmo preparou e ficou uma delícia com aquele molho barato do mercado. Como era mesmo o nome? Nunca mais vi dele.

Acho... acho, não. Tenho certeza. De que foi o melhor Carnaval da minha vida.

Será que conseguiremos um dia reviver momentos como aquele? Será que conseguiremos colar o cristal quebrado, ignorar as mágoas?

Sim, o afeto. O afeto é o último fio desse tear empenado.

E eu estou com medo. Medo de ficar só. E também não quero mais pensar sobre isso.

Beijos. Dolores.

Ao longo de muitos e tórridos dias brincamos no mar, nas ondas, na areia. Durante muitas e tórridas noites, brincamos com nossas sereias. Nos sentimos imunes, impunes, blindados contra os vendavais do moralismo reinante em todas as camas e camadas da chamada sociedade. Por quê? Porque a certeza de que não estávamos fazendo mal algum nos garantia a invulnerabilidade dos inocentes. Somos inocentes, Dolores. Geramos muito prazer e respeito. Esteja certa disso. Como estou certo que minha face vermelha perante o vermelho das rosas e de sua calcinha em nosso primeiro encontro era reflexo da pura timidez e respeito.

Assim vejo nossos escudos protetores. Não, você não está subestimando afeto algum porque em nenhum momento ele nos deixou ou nós o deixamos. O afeto esteve, está e vai estar em nossa trilha porque foi banhado nele (ou seria afogado nele?) que construímos essa história de amor, que muitos julgam empenada, torta, derretida. Não, Dolores, de jeito algum. O nosso afeto é a marca da vida, do ar, da estrela ascendente no céu de inverno, enfim, todos os belos elementos da felicidade cabem nele. Em nosso afeto. Que jamais se encerra. As mutações o protegem dos oponentes que o cercam como hienas. Dia e noite, ano após ano. E o afeto vence. Sempre. Sempre. Mas depende de nós, você sabe, eu sei. Depende da dose de mágoa que eventualmente um injeta no outro. O afeto resiste às hienas, mas a mágoa não.

Por isso estamos distantes. Os choques estavam se tornando crônicos e chegamos ao limiar do respeito. Foi quando o amor liberou nossos instintos de preservação e nos separou temporariamente. Uma separação que nada tem a ver com as anteriores, sempre causadas por elementos externos. A separação que vivemos agora é a prova maior de nosso amor, de nosso afeto mútuo. Não vou tentar apagar o passado. Passado que não vejo como reverência, mas referência. Uma referência importante para que os acertos de hoje se multipliquem. Precisamos acertar mais, querida Dolores, e para isso basta pensarmos bem menos (de preferência não pensar mais) nos erros. Nós merecemos ser felizes. Como cantou Beto Guedes, há tempos "Meu amor, não leva a mal/ Chega de maltratar/ Quem só quer bem /E não tem mais razão de suportar/ Tanto." Beijos, Tony.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Deus, será este o sinal: o homem da minha vida me dará flores no primeiro encontro. Ok? (O trato firmado com o Todo-Poderoso uma semana antes de nos encontrarmos naquele bar). Lembra? É, meu caro Tony. Uma rosa vermelha. Linda. Aveludada e fresca. “Para combinar com o seu vestido”, você disse. Na verdade, com a cor de minha calcinha que, até hoje, não sei como descobriu. Como conseguiu ver! Precisou de certo tempo para sentir-se à vontade e confessar que o vermelho das pétalas nada tinha a ver com o meu longo de festa.

A essa altura também, os motivos cromáticos de sua gentileza já nem me importavam muito, Tony. A essa altura, meu querido, eu já estava completamente apaixonada. Radiante por estar ao lado do meu homem. O escolhido. Fruto de minha ligação direta com o Amor Eterno.

Mas foram tantos os desvarios... repetidas e viciadas delinquências... sim, fomos ficando fragilizados com isso.

E, hoje, fico a me perguntar se a ilusão de uma súplica atendida não acabou sendo o escudo protetor de nossa história.

Sem ela, será que teríamos sobrevivido a inúmeras e sufocantes crises? Ou estarei subestimando nosso afeto?

Estou?

Beijos. Sua sempre,
Dolores.

A menina que mora em você é tão lúdica/lúcida que chega a comover o mais radical dos boçais. Não é a primeira vez que você cita a infância/adolescência em nossas cartas, assim como eu também vou soltando o menino que vive em mim uma vez ou outra. São referências muito fortes e reverências mais fortes ainda. Confesso que muitas vezes sinto saudade daquela anistia que a infância nos dá com relação aos compromissos de adulto. Em geral a infância é um manto protetor, que apesar de passar rápido deixa um sulco profundo na alma dos mais sensíveis. A psicanálise diz que esse sulco está presente na vida de todos. Dos bons, dos maus e dos feios.

Depois de constatar que estamos às voltas com nós mesmos você pergunta se será isso o fim. Dolores, em geral o fim é mais objetivo e rápido. Resta saber o fim de que. De nosso amor? De nossa relação? De nossa dependência mútua. Nos tornamos plurais, radicalmente plurais com o passar do tempo e você, além de minha mulher, minha fêmea, tornou-se também minha companheira, confidente, tudo aquilo que já te falei, eu acho. Se um dia nos tornamos ex um do outro, com certeza vamos sentir falta desse pacote que está atrelado ao nosso fragilizado amor. Acho que achei a palavra: fragilizado. Nossa história está fragilizada após aquele bombardeio inexplicável de situações que nem mesmo nós conseguimos explicar porque aconteceram. Será que fomos fundo demais em nossas vivências sexuais e o moralismo interior apareceu com a conta na mão? Será que nos envolvemos a ponto de não sabermos mais onde começa um e termina o outro? Nos tornamos siameses?

Uma coisa é certa para mim. Quando você apareceu em minha vida eu pensei "essa vai ficar eternamente" porque você resume todos os meus desejos em uma única mulher. Desejos e defeitos. Seus defeitos, em determinado momento, se mostraram adoráveis para mim. Veja você! Defeitos adoráveis. Até que...nos perdemos, ou fomos longe demais surfando no hedonismo e nos tornamos vítimas do pós-prazer absoluto. Mas, apesar de tudo, não sinto o fedor do fim de nossa história ainda. Para mim resta saber qual das histórias, qual das relações, qual dos sentimentos está hoje em estado mais crítico. E fique certa de que não vou pensar sobre isso sob o risco de me confundir ainda mais. Com amor, Tony.