terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A menina que mora em você é tão lúdica/lúcida que chega a comover o mais radical dos boçais. Não é a primeira vez que você cita a infância/adolescência em nossas cartas, assim como eu também vou soltando o menino que vive em mim uma vez ou outra. São referências muito fortes e reverências mais fortes ainda. Confesso que muitas vezes sinto saudade daquela anistia que a infância nos dá com relação aos compromissos de adulto. Em geral a infância é um manto protetor, que apesar de passar rápido deixa um sulco profundo na alma dos mais sensíveis. A psicanálise diz que esse sulco está presente na vida de todos. Dos bons, dos maus e dos feios.

Depois de constatar que estamos às voltas com nós mesmos você pergunta se será isso o fim. Dolores, em geral o fim é mais objetivo e rápido. Resta saber o fim de que. De nosso amor? De nossa relação? De nossa dependência mútua. Nos tornamos plurais, radicalmente plurais com o passar do tempo e você, além de minha mulher, minha fêmea, tornou-se também minha companheira, confidente, tudo aquilo que já te falei, eu acho. Se um dia nos tornamos ex um do outro, com certeza vamos sentir falta desse pacote que está atrelado ao nosso fragilizado amor. Acho que achei a palavra: fragilizado. Nossa história está fragilizada após aquele bombardeio inexplicável de situações que nem mesmo nós conseguimos explicar porque aconteceram. Será que fomos fundo demais em nossas vivências sexuais e o moralismo interior apareceu com a conta na mão? Será que nos envolvemos a ponto de não sabermos mais onde começa um e termina o outro? Nos tornamos siameses?

Uma coisa é certa para mim. Quando você apareceu em minha vida eu pensei "essa vai ficar eternamente" porque você resume todos os meus desejos em uma única mulher. Desejos e defeitos. Seus defeitos, em determinado momento, se mostraram adoráveis para mim. Veja você! Defeitos adoráveis. Até que...nos perdemos, ou fomos longe demais surfando no hedonismo e nos tornamos vítimas do pós-prazer absoluto. Mas, apesar de tudo, não sinto o fedor do fim de nossa história ainda. Para mim resta saber qual das histórias, qual das relações, qual dos sentimentos está hoje em estado mais crítico. E fique certa de que não vou pensar sobre isso sob o risco de me confundir ainda mais. Com amor, Tony.

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