terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

É preciso certo cuidado, meu doce e desajeitado Tony, quando dispomos pratos, copos, guardanapos e talheres à mesa. Os lugares para este ou aquele convidado... se usaremos flores ou velas... é uma arte.

Da mesma forma as lembranças.

Nem todas são fáceis de serem mexidas. Lembranças sobre experimentações sexuais, então, geralmente nos levam a uma inevitável dúvida: "devo me escangalhar de rir ou refletir com atenção aos detalhes?"

Vício psicanalítico - você sugeriria.

E eu responderia: talvez.

Não ser escrava de nada. Este foi sempre o meu ideal.

Mas, de você... O que eu não faria para agradar você? Só que quando nos damos conta de que aquilo que fizemos como presente generoso ao ser amado torna-se algo tão prazeroso que poderíamos viver sem ele - o ser amado, como não se assustar?

Como daquela vez em que me tornei voyeur de duas amigas e as perdi para sempre. A amizade, digo. Foi para o espaço. O vício de olhar, no entanto, foi mais difícil de lançar estratosfera a fora. Enfim.

Por essas e outras, meu querido, que prefiro não pensar muito nisso. No prazer de certos vícios. Porque entre me deixar levar por impulsos libidinosos e odiar você, prefiro abrir mão do primeiro.

Ou entenda de uma vez por todas. Prefiro não tê-lo a perdê-lo de vista. Ou, pelo menos, não da maneira como entende o que é ser possuído. Entende isto?
E isto também é amor.
Sua, Dolores.

2 comentários:

  1. Vc's estão cada vez melhores e ñ canso de me surpreender ao final de cada carta ou tapa... A elegância de Dolores e até as palavras desesperadas por uma reação do Tony! Ótimas

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