domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dolores, um dia desses fui a um aniversário no bairro onde morei na adolescência. Por razões que desconheço, a especulação imobiliária ainda não abocanhou boa parte do lugar onde vivi dias e noites sonhando, atirando bombas juninas, soltando pipa, namorando, namorando, namorando. Muitas casas ainda estão lá, assim como os muros onde nós, um bando de saudáveis inconsequentes, escrevíamos mensagens de amor para nossas namoradas usando o xixi como canetas. Confesso, minha querida, que depois da festa de aniversário resolvi dar uma perambulada à pé pelo bairro, na verdade uma rápida incursão por mim mesmo. O homem e seus símbolos. Não vou negar, Dolores, que enquanto caminhava lentamente pelas ruas senti um nó na garganta. Terá sido saudade? Não sei, sinceramente não sei. Os ecos do meu passado chegavam a bordo de canções dos Beatles, Stones, Mamas and Papas e toda a Tropicália. As músicas tocavam em minha cabeça como MP3 enquanto eu lembrava dos personagens de minha história.

Você sabe que não sou saudosista. Sabe sim. E não julgo essa minha incursão um flash back. Longe disso. Eu fiquei fascinado com todo aquele cenário e quis mergulhar nele tempos depois. Muita gente faz isso quando o cenário ainda existe. Mas em nenhum momento tive a pueril ilusão de que iria reencontrar meus amigos, os balões de São João, as garotas. Claro que não. O tempo passou, alguns desses amigos morreram, outros foram tocar suas vidas em outros lugares, mas restaram algumas casas, os muros, fragmentos de nossas adolescências e seus sonhos e pesadelos. Tudo isso para dizer, querida Dolores, que foi bom eu ter dado esse giro pelo bairro, um dos cofres de meu passado, que como bom passado, passou. Beijos do Tony.

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