quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Minha querida, um dia desses você lembrou do nosso amigo Zé. Hoje passei o dia pensando nele, com muita saudade e, não nego, uma puta vontade de que ele estivesse vivo para podermos, eu e você, ir conversar com ele. Aquelas conversas de quatro, cinco horas, quem sabe naquele bar que ele gostava de ir. Naquele dia você falou algo do tipo "peça para sonhar com ele" e acho que vou fazer isso sim. Especialmente depois da decisão de ontem a noite, que ambos, eu e você, (i)maturamente tomamos: passar uma temporada separados. Foi assim o combinado: temporada. Sem prazo estabelecido, sem datas, sem nada. Se o Zé estivesse aí seríamos um prato cheio, você não acha? Eu acho, apesar de nos últimos dias estar mais procurando do que achando.

Não sei o que essa temporária separação vai proporcionar. Se em você bater uma espécie de "alívio de mim", que assim seja minha querida. Apesar de engolir em seco sei que não perdi, não fracassei nas inúmeras tentativas de manter com você uma história natural, simples, trivial. Apesar de admitir que não somos triviais, muito menos simples ou naturais, mas ainda não desisti de baixar a bola para uma vida mais suave a seu lado. Não desisti. Como testemunha tenho uma sabiá que canta diariamente numa árvore aqui perto. Especialmente nos fins de tarde. Quando estou por aqui e essa sabiá canta eu lembro de minha infância que vivi num lugar tão mágico, mas tão mágico, que até uma psicanalista concordou comigo há uns anos atrás, e acabou se emocionando no meio da sessão. Nesse lugar havia bandos de sabiás, tiês-sangue, sanhaços, canários da terra, todos voando e cantando livres. Eu, com meus 4, 5, 6, 7, 8, 9 anos, ficava absorto, contemplando aquela sinfonia. A mesma sinfonia que há uns anos atrás, dormindo a seu lado, ouvi no meio da noite naquele sonho com pássaros que te contei.

Mesmo que você me atirasse ferro de passar roupa quente no meio dos cornos eu jamais iria deixar de torcer por sua felicidade. Apesar da capa de gabardine que encobre meu inconsciente te levar a pensar que "A primeira vez que ouvi “Foda-se se a platéia está gostando do meu blues”, pensei lisonjeada: ele fez pra mim. Você não é amador em nada que se meta a fazer, amor. Nada nada nada. Como um bom Hermes." Sou sim. Nessa torcida por nossa felicidade sou mais amador do que o menino vibrando para que o tiê sangue não pisasse no visgo de jaca armado na arapuca e fosse parar num cativeiro. E é claro que compus aquele blues para você. Para quem mais? Não há ninguém além de você que mereça meus blues. Mesmo à distância como estamos vivendo temporariamente desde ontem à noite. E eu voarei como um tiê sangue em busca da nossa felicidade, pelos céus que o querosene, as turbinas e metais do meu trabalho me proporcionam. Sempre. Beijos, Tony.

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