Acordei melancólica hoje. Não me pergunte o motivo porque não saberia explicar ou definir... Deve ser o dia, nem nublado de todo nem sol a pino. Vá lá saber.

Engana-se, no entanto, quando pensa que eu preferia não falar sobre Hanói. No fim das contas, a militância ideológica ainda lhe cai melhor do que as funções dúbias e mal exercidas em comércio de quinta. Sejam elas hierarquicamente melhores ou não. Você não nasceu para o trabalho, amor. Nasceu – antes, sim – para desvirginar as mulheres. O problema é que você se perde no meio do caminho. E elas aguardam ansiosas sua chegada. Mas, esta, nunca acontece.

Como qualquer outra mulher de quinta, Tony, também sinto ciúmes. E muito, se quer saber. Jogue, jogue quantos verdes quiser para ouvir o alimento de sua alma convencida: que eu me arrasto de ciúmes por dentro enquanto faço cara de paisagem por fora diante da infindável lista de cadelas em seu histórico de cachorro alfa. Cumprimento, adiciono, troco telefones... tudo mentira!!! Se eu pudesse encaixotava você.

É, meu bem, acredite. Eu me identifico com o personagem do filme “Encaixotando Helena”, sim. Me identifico! Pronto, admito. Gostou? Gostou de saber? Também me identifico com a personagem de “Lua de Fel”. Cuidando de você paralitico. Me vingando... sim, me vingando. Ah, sonhei com isso tantas vezes...

Mas, então, penso no seu afeto desordenado e doentio. Lembro da surpresa que me fez naquele meu aniversário longe da família, lembra? Você apareceu de surpresa no meio da noite e me levou para tomar banho de cachoeira em pleno inverno. Mas eu não senti frio. Sua alegria me aquecia. E a lua concedia o luar mais generoso presenciado por mim nessa vida.

Te amo, Tony. Te amo.
Sua Dolores.