domingo, 15 de novembro de 2009

Ando meio nostálgica, sabe. Talvez, por isso, o órgão milenar da igreja matriz, com seu som inigualável e magistral, tenha me levado para bem próximo de você hoje, Tony. Há muito não assistia a uma missa e – devo confessar – já nem me lembrava mais direito da sequência dos ritos.

Que coisa feia, diria madre Agnes. Meneando a cabeça e sorrindo cinicamente ao mesmo tempo.

Pensar na sua vida como “barco ancorado que sonha que navega”, meu querido, não tem nada a ver nem com suas reminiscências nem com armas postas ao chão. Mas com o silêncio de seus olhos úmidos, marejados de dor.

Você há de dizer: “mas a dor é inerente ao ser humano!” Naquele seu tom afirmativo que me fez e ainda me faz amá-lo tanto assim. E eu responderei. Sim! Sim! Mas não com os olhos marejados, meu amor. Porque a dor inerente da qual você fala ou é dura, seca, árdua ou é desesperada e suicida. Jamais silenciosa e úmida como a sua.

Não. Prefiro ser inquieta e confusa a aceitar a morte em vida da imbecilidade reinante. O peso no peito, aliás, impede que eu perca o meu norte. Ah, então é por aqui... o meu caminho... Só não pense que isso é maior do que eu, meu querido. Porque também sei ser leve, clara, esvoaçante e digna diante de um dia de sol, céu aberto e águas calmas...

Nas tréguas do espírito. Nos verões da alma.

Bejios. Dolores.




2 comentários:

  1. Que textos! E que peça teatral eles poderiam dar origem! Ah! E adorei o "Prefiro ser inquieta e confusa a aceitar a morte em vida da imbecilidade reinante"

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  2. Também ando meio nostálgica,sabe.

    Esse texto é a minha cara.

    " Prefiro ser inquieta e confusa a aceitar a morte em vida da imbecilidade reinante"

    Adorei!

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