sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Li sua carta no início da madrugada. Claro que não consegui dormir. Um minuto sequer. Mas ao contrário das insônias ditas comuns, ou vulgares, essa não foi regida pela ansiedade ou pela angústia e sim por uma avassaladora saudade de você em uma determinada era. Saudade da Dolores que me escreveu essa última carta, que parecia gritar no cativeiro do envelope até eu libertá-la com um rasgo suave. Com exceção de afirmar que desfio rosários repetitivos de teorias caducas (não sei de onde tirou essa conclusão) você se mostrou extremamente lúcida.
Extremamente! E por isso, levei a carta para a cama com a clara intenção de dormir sonhando com todos os grandes momentos que vivemos juntos até um dia desses. E o que aconteceu é que sonhei de olhos abertos, com o telefone na mão, ardendo de desejo para te ligar, mas desde que elegemos as cartas como nosso meio de comunicação principal respeitei.

Quando estamos nos sentindo rejeitados, a lógica sai para fazer compras. Ficamos à mercê de pensamentos e sensações sem qualquer sentido que naquele momento abrigam todos os sentidos do mundo. Na verdade, creio, perdemos o bom senso. Foi o que aconteceu quando, carente e rejeitado, comecei a perceber que você pulava da cama mais cedo por minha causa. Hoje, mais frio e mais lógico, lembro de seu ensaio extra e de minha viagem ao Marrocos. Hoje!!! Mas naqueles dias sofri muito, arrastado pelos tornados das fantasias ruins.

Acho que já te disse algumas vezes que você apresenta uma síndrome de Monalisa que me deixa fora de mim. Nunca se sabe se você chora ou ri, pouco fala e guarda todos os sentimentos num cofre blindado, à prova de todas as minhas armas, mesmo as mais pesadas. Se naquele tempo tivesse escancarado e me dito "queria voar para você, Tony. Mais do que dançar... voar. Ser você", o futuro (hoje, presente e quase passado) com certeza seria outro. Não estou querendo chorar o sêmen não derramado, mas alguns sentimentos parecem querer se cristalizar dentro de nós. A Monalisa que existe em você sempre me apavorou muito porque, VOCÊ SABE, sou péssimo quando o assunto é decifrar sentimentos subjetivos. E essa Monalisa não é uma invenção minha. Várias amigas nossas já se referiram a esse seu estado de mutismo como algo que faz mal a todos. Todos, sem exceção. Por isso é hora de virarmos esse jogo. Eu acredito que dá. Com ou sem Monalisas no caminho. Acredito em cada frase, cada palavra que você colocou nessa carta, como uma proposta de recomeço. Acerto ou erro? Beijos, Tony.

Um comentário:

  1. Querido Tony, tomei a liberdade de interceder numa questão... se muitas mulheres hoje “incorporam” a Monalisa é porque vocês homens, com sua insegurança e distanciamento, nos forçam a retrair os sentimentos. Mais cedo ou mais tarde. Quando nos expomos vocês se amedrontam. Faz-se mais fácil para nós, por mais apaixonadas que estejamos, sorrir, concordar e, quem sabe, tentar esquecer.

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