domingo, 22 de novembro de 2009

A verdade não tem donos. É uma maravilhosa vadia como você, voando pelos becos e artérias das paixões, como morcegos em sessões de cinema. Matinês de preferência. Agora, numa boa, na paz, caminhando em gelo fino, pergunto: quem é você para chamar Scarlett O’Hara de egoísta? De novo você erra numa avaliação comportamental, como vacilou feio comigo na penúltima carta. Scarlett era uma obstinada, correndo atrás de sonhos que se tornaram pesadelos e voltaram a ser sonhos. De novo. Por quê? Porque ela tinha comando sobre sua própria vida, sua própria vontade e não vivia no arrego. Tinha tudo para isso, para ficar se lamentando embaixo de uma árvore, secando lágrimas com lencinho de seda. Que nada. Ela optou pela ação, pela reação, preferia morrer em campo de batalha a simplesmente apodrecer em alguma grutinha protegida daquele estranho lugar.

Posso falar? Egoísta é você, Dolores. Começo a suspeitar que você tem mesmo duas máscaras. Em nosso último encontro me tratou com afagos, beijos na boca com direito a mordidinhas nos meus lábios (estranhei, porque você nunca gostou de beijar assim), mãos nas coxas e arredores, cafezinho, água gelada, ar condicionado. Naquelas poucas e longas horas eu me senti um sultão na sua cama, apesar de ter achado (preste atenção, eu disse achado e não concluído) que no final você insinuou para que eu fosse embora. Se bem que no mesmo momento relevei. Eu é que posso ter avaliado mal, mas como não sou egoísta a ponto de transformar más impressões em decretos relevei.

Tudo bem no último encontro e, sem mais nem menos, você me esbofeteia numa carta. Não faz sentido. Concordo com poetas, seresteiros, namorados que o amor não faz muito sentido mesmo não, mas essa foi demais. Respondi no mesmo tom (claro, fiquei puto.magoado.com) e você devolve mudando de assunto como quem muda de granja, fugindo de um gatuno qualquer como uma codorna virgem e assustada. Você já havia me contado essa história do baile, do rapaz que fisicamente era uma mistura de ex-beatle com jogador de futebol. Claro que é uma bela história. Mas e se eu disser que eu também devo parecer com alguém, quem você sugere? Não falo nada quando você erra e me chama de outro nome, sempre o mesmo (Aramis), e para não cair nas arapucas do imaginário inventei para mim mesmo que Aramis era esse cara do seu baile. E ponto. Da mesma forma que eu acho você parecida com Leila Diniz quando era novinha, mas nunca, nem gozando, fora de mim, troquei seu nome Dolores. Mas se um dia trocar, saiba que será pelo da Leila. Ou será que a maneira de sentir a vida da Leila me encanta tanto que eu te acho parecida com ela? Não sei, não sei, não sei.....Tony.

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