terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sabe Dolores, apesar das aparências Solange é homem. O problema é que nós e o resto da humanidade esquecemos disso. Hoje golfei na rua quando lembrei de quando ele confessou não ser mulher. Lemrei que você também esqueceu. Felizmente sofro de amnésia reativa desde que dei aquela porrada de moto num poste, mas o que eu quero deixar claro para você, e cada vez mais escuro para o mundo, é que em algum momento da nossa história aceitamos Solange, mesmo sendo homem. Essa nossa intensa troca de correspondências está nos levando a um lugar que, presumo, é incrível e eu, sinceramente, espero que não seja um beco sem saída.Se você acordou melancólica hoje, eu levantei cansado. Muito cansado. Cansado de tanto pensar nessas bobagens e futilidades como, por exemplo, Solange, um homem tão mulherzinha que nós esquecemos de sua condição original. Estou cansado. Cheguei tarde daquele trabalho de ontem à noite, dormi mal (o e-mail de meia linha que mandei pra Solange não me fez bem) e ainda por cima começo a perceber que você não parece muito disposta a trocar idéias comigo? Por que não fala daquela carnaval em Florianópolis? Aconteceu alguma coisa que eu não saiba? Ou seu jeitão levemente salvacionista decidiu me poupar? Sei lá, as vezes é melhor ficar sem entender nada. Nada.

Será que um dia seremos normais? Vamos andar pelas ruas dando risadas, comer pipoca em cinema, visitar o zoológico, ir pra cama sem teorias? Hein? Você acha que um dia esse falatório alucinado, que parece uma transmissão de corrida de cavalos, vai deixar nossas cabeças em paz? Ou não teremos paz porque simplesmente não a desejamos? Solange, por exemplo. Não a caçamos em busca de paz, e muito menos de alívio. Então, por que a caçamos? Por que deixamos que acontecesse aquilo tudo no carnaval em Florianópolis? Eu já desejei ser um sujeito quase imbecil. Quase, Dolores. Do tipo que chega do trabalho, toma chopinhos, assiste ao futebol no bar, vai para casa, come, assiste TV, depois come de novo, finge que ouve o relato do dia de sua mulher e vai pra cama. No entanto estou longe disso. Eu queria agora estar na cama com você. Quieto. Sem falar nada. Apenas te masturbando, do jeito que adoro. Mas quieto, sem texto, sem aquelas frases (negue, por favor) que você clama. E aclama. Na cama.

Eu quero muito que você fale daquele carnaval em Florianópolis, mas se não quiser falar por favor diga "olha, eu não quero falar disso". Estou ficando aflito. Será que brochei? Beijos do Tony.

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