domingo, 15 de novembro de 2009

Temendo que o sonho possa ser um pesadelo, pode ser que haja um fundamento na sua intuição sobre um barco ancorado sonhando que navega. O que a levou a essa constatação? Minhas cartas? Meus devaneios mais lúdicos e quase infantis e ingênuos? Você acha que estou abrindo a guarda.

....... (pausa, pensando) Está mais do que na hora de abrirmos nossas guardas, explodir as correntes, os cativeiros existenciais que insistem em nos manter angustiados, tensos, muitas veses melancólicos como toda a obra de Camus e Clarice. Sinceramente, Dolores, você preferia ser uma pessoa mais imbecil ou continuar a ser o que é e carregar todo esse peso no peito. Eu tive vontade de perguntar a alguns escritores que encontrei por ai, eu sempre na condição de fã, se eles preferiam não escrever nada e viver sem o flagelo da angústia ou o oposto.

Sim, você tem razão. As igrejas são refúgios de nossos soluços, lágrimas, sussurros porque parecem ter sido construídas para abrigarem nosso caos. Uma vez eu ouvi alguém falar que Deus gosta de nossos fardos. Nunca mais esqueci essa frase. Eu confesso a você que sempre tive uma certa cerimônia com Deus, de pedir muito, de estar sendo pesado a Ele. Até esse dia em que essa pessoa, durante a cerimônia de um casamento, disse essa frase. Foi quando me soltei e parei de "economizar" Deus, na certeza (depois ouvi até de um teólogo que aquele sujeito tinha razão ao dizer aquela frase) de que meus fardos são uma forma de reverência a Deus. E você sabe que eu reverencio Deus com muita força. Mesmo quando estou com pouca força, estou cansado, abatido, como um personagem de Camus ou Sartre.

Não tema por mim. Por favor! Não tema por ninguém! Temer a vida, isso sim, é sonhar de olhos abertos no cárcere privado do inconsciente. Beijos, Tony.

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