quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Dolores, li sua carta no metrô. Sei que não é o local mais apropriado, mas suas cartas têm o poder de me arrancar de onde estou e me atirar numa infinidade de planetas. Lúdicos inclusive. Eu estava lendo você dizer que baixou o tom de sua Letra em reverência a minha fragilidade e me trouxe a memória uma cena de quando eu tinha 7, no máximo 8 anos. Deitado numa pedra a beira mar, antes da hora do almoço, contemplava aquele céu azul de confundir andorinhas e Boeings 747 e pensei "eu sou muito feliz".

Acho que é por isso que as lembranças da infância jamais nos deixam, jamais descolam de nosso inconsciente. Porque são lembranças de um tempo belo, protegido e não cobrado. Olha só. Belo, protegido e não cobrado. Quer coisa melhor? Claro, não havia sexo, que é a melhor de todas as coisas (há quem discorde), mas essa imagem da pedra me inundou a mente quando eu lia você dizer que "perceber os momentos de fragilidade do outro e respeitá-los é o meu verdadeiro véu e a minha verdadeira grinalda. E a isso também costumo denominar de lealdade." Talvez por isso, em uma de nossas cartas de trocas ou trocas de cartas você tenha dito que sou leal. Porque ergo o tom quando necessário, abaixo quando a prudência solicita educadamente. Fato é que, além da porta de emergência, todos nós temos uma saída. Para tudo.

Você percebeu que o volume de palavrões que escrevo para você caiu vertiginosamente? Pois é, não me pergunte por que. Um vento de elegância rompeu a persiana do escritório e, em conluio com a delicadeza transformou porra em pô. Jamais questionarei essas mudanças porque elas não fazem bem nem mal. Mas fazem alguma coisa, sem dúvida, porque senão eu não estaria comentando o que seria mero detalhe. Você concorda? Mas não garanto ausência de palavras chulas por muito tempo porque não acredito nelas. Acredito em palavras. Se são leves ou não, lindas ou não, depende do texto e do contexto. Não necessariamente nessa ordem. Da mesma forma que a internet (re)aproxima as pessoas, que podem sentar até nuas no computador e conversar longamente, on line, com esse ou aquele amigo.

Ando sim com os labirintos emocionais femininos na cabeça. Mais uma vez você acertou. Precisão de sniper você tem, hein. Mas o que é mais importante nessa vida do que os labirintos emocionais femininos? Por quê? Porque não conseguimos sair deles. Nós, homens, batemos com o pau na mesa em um momento qualquer e decidimos, sabe-se lá porque, mergulhar nesses labirintos. Ficamos tontos, golfamos, sentimos vontade de gritar por socorro, mas aí é tarde demais, já estaremos perdidos num universo sem saída e sem buracos negros. Os labirintos emocionais femininos são implacavelmente belos, e muitos homens preferem abrir mão do socorro e viver por ali até o último dos dias. Ou melhor. Das noites. Tony.

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